Tuesday, February 15, 2011

Bolsas de pesquisa para estudantes no Brasil

Se você é estudante universitário - seja graduação ou pós - provavelmente deve estar habituado com a burocracia para realizar atividades na universidade. É, na universidade. Como não tenho muita experiência em ambientes de ensino superior de natureza privada, vou comentar um pouco sobre isso no ambiente das universidades públicas.

As universidades públicas são estruturas que alojam funcionários, obviamente também públicos, na sua grande maioria, que, por sua vez, reproduzem o modo de trabalho da esfera governamental que está relacionado (federal ou estadual, por exemplo). Daí já iniciamos um problema. Funcionário público? Já ouvi essa história.

Já que é pública, a universidade deverá, quando você requer algo, averiguar se todos os seus deveres como cidadão está em dia. Você deverá aguentar as filas, os cancelamentos, as regras, os funcionários que não foram "naquele" dia ao trabalho, a falta de informações, o mal humor, entre outros brindes do "kit instituição pública".

Embora tenha feito essa reflexão, não quero ir mais além. Tenho orgulho de ter me formado em uma universidade pública e gostaria muito que meus filhos, que ainda não tenho, tenham também esse prazer. As deficiências geralmente não são gemeadas na universidade e sim transmitidas pela estrutura que as cerca.

Um dos pontos que mais atrai alunos nas universidades públicas é o ensino gratuito. Diferente de alguns países de "primeiro mundo", o Brasil oferece ensino superior de qualidade sem taxas. Além disso, o governo brasileiro possui agências que fomentam pesquisa e desenvolvimento, o que é uma forma de disponibilizar auxílio financeiro, são as chamadas bolsas ("ahhh bolsas"), aos alunos que estejam aptos (disponíveis e interessados) a participar de projetos de pesquisa/extensão/desenvolvimento que tenham esse viés.

Muito bom estudar de graça e ainda ganhar dinheiro, né? É como dizem: "ganhar para aprender". Realmente é fantástico, mas o sistema que proporciona isso também nos mostra pontos fracos da estrutura de financiamento da pesquisa que temos no Brasil. É sobre isso que quero falar.

Para qualquer bolsa de pesquisa, o aluno - vamos esquecer um pouco da função "pesquisador" no momento - deve satisfazer determinados pré-requisitos; ter rendimento escolar igual ou acima da média, ter poucas ou nenhuma de reprovação, ter experiência comprovada em determinadas áreas de conhecimento, ter uma carga horária do curso já realizada, entre outros. Cada requisito varia muito com o tipo da bolsa (PIBIC e ITI, CNPq-uiamente falando) e com o tipo de seleção que é realizado. O tipo da seleção também depende de muitas coisas, se a bolsa for institucional, por exemplo, for da quota de uma Universidade, provavelmente esse processo será unificado para seus alunos, se a bolsa for dirigida a um projeto específico, provavelmente os coordenadores do projeto irão se encarregar da divulgação e processo seletivo.

Estudo, busca, seleção, aprovação e.. implementação. Poxa, que trabalho é essa implementação das bolsas. Muitas vezes eu penso que é um teste de paciência e o candidato ainda está na fase de seleção. Eu já tive 4 bolsas do CNPq, uma da CAPES e duas por uma Fundação EstaduaL: somente uma delas (a primeira de
todas, do CNPq) não atrasou a implementação. Em outras 20, que ajudei a solicitar, os problemas foram diversos. Para não ter problemas com a implementação as estratégias são inúmeras, talvez eu tente escrever em uma futura postagem e também deve-se manter o olho aberto para os problemas que podem acontecer durante a bolsa, para não ir planejando comprar aquele notebook HP dividido em 12 meses e ser pego de surpresa quando sua bolsa for suspensa depois de 6 meses. Isso me faz pensar muitos aspectos sobre a iniciação à pesquisa no Brasil e, em consequência dessa reflexão, faço vários questionamentos, entre eles:

- Nesse "boom" que o mercado brasileiro atualmente está patinando, no qual traz consigo um convite financeiro forte aos recém-formados, como o governo pode motivar os jovens que tem alguma vocação para a pesquisa científica? Ou até, como tardar a entrada desses profissionais no mercado, visto que profissionais com mestrado e/ou doutorado teriam uma melhor formação e consequente capacidade de melhores resultados nas empresas?

- Como fazer com que essas agências governamentais "servidoras" sejam mais eficazes - não somente contratando mais pessoas - e que passem a atender as solicitações mais como um parceiro e não como uma central de atendimento de uma operadora telefônica?

- Deve-se realmente aumentar o número de bolsas em detrimento ao aumento do valor delas? Para embasar isso me falta alguma fonte que mostre a desvalorização das bolsas de 1990 até hoje.

Não tiro o mérito dos investimentos, que têm sido muitos(!), e da importância e apoio que as agências governamentais e universidades, essas últimas fundamentais, para o avanço da pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Como primeiro de uma série de posts apenas tento colocar alguns questionamentos que, alguém, algum dia, possa levar para o topo da pirâmide e ajudar na concepção, criação e operacionalização de novos e mais eficazes sistemas de apoio à P&D.

Também não vou ficar falando somente problemas, mas oportunidades e dicas na pesquisa, focando sempre a área de Engenharia Sanitária e Recursos Hídricos.

Embora o blog só esteja começando a funcionar agora (início de 2011), o início desse texto foi feito em 2009, quando eu estava em intercâmbio e tive problemas para receber o apoio financeiro daqui.

Espero que para você, que caiu por aqui, isso sirva de algum proveito.

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